A VIDA É UM PRESENTE
Eu gosto de dirigir meu
carro sozinha quando volto do hospital toda tarde quando vou deixa-la. Escuto
minhas músicas na altura que eu gosto sem ninguém estar conversando comigo.
Fico só com meus pensamentos, onde ele pergunta e responde ao mesmo tempo. É
cansativo ser acompanhante de quem está debilitado, mas gratificante quando
vemos e sentimos algum sucesso. Isso está acontecendo comigo. Sei que é por
algum tempo e esse tempo se esgotará. Ela voltará para sua casa, marido, sua
vida!
Penso também que são tantas
coisas envolvidas nisso, sempre em tudo que vejo e sinto e decido e entendo que
nada do que fazemos nessa vida nos deixará como nós éramos antes porque
irremediavelmente sempre deixam e levam coisas, esses acontecimentos mais
sérios.
Levando em conta então os
relacionamentos! Sim, porque quanto mais próximo ficamos de alguém e alguém de
nós, é claro se evidencia nossos defeitos, nossos erros, falamos e ouvimos o
que não queremos.
É uma coisa meio complicada porque às vezes
nosso silêncio em determinadas situações incomoda. Nossa postura nossa forma de
falar, o que pensamos o que expomos em atos e gestos... Ah! Como as pessoas
complicam!
E quando passamos para a
convivência no hospital é muito complicado para mim. Não aguento ver
negligência! Tomo defesa até de quem não é nada meu e por aí vai.
Dentro do meu carro,
dirigindo, faço meus pensamentos ficarem em ordem. Reflito no que aconteceu,
porque cheguei até ali, no que poderá acontecer depois quando cada um voltar
para seu lugar. E vem uma resposta intuitiva que nada será mais como antes por
que nesse íntere muitas coisas foram abreviadas, cortadas, sonhadas e não realizadas
formando uma nova experiência de vida. E quem aprendeu, aprendeu!
A certeza do dever cumprido
mais uma vez se apodera de mim dando-me um refrigério, um conforto mental por
não ter tido medo nem ter sido negligente me superando outra vez sem ter sido
como tantos de enxergar somente o óbvio.
Conheci pessoas como Tati
e outras pessoas que conseguem levar sua vida com sua limitação. Sinto muita
pena de Herlene que gosta do meu perfume, gosta de olhar para mim e diz que tem
medo, não gosta daquele lugar, não gosta de ser hemodiálítica, gosta de alegria
e trabalhar. Ah! Meu Deus!!!! É hostilizada pelos outros da sala porque geme, chora, e tem
dificuldade de suportar as 4hs de diálise.
E entendo que se a
pessoa não viver determinada situações sendo elas ruins e sendo ela boa você
será apenas um ser vivo oco, sem nada para oferecer num momento inesperado como
esse que vivi, porém com muito amor!
Serão momentos memoráveis
como filmes que assisti com minha irmã, como quando lavei seus cabelos, dei
seus comprimidos, a vi cuidando das minhas plantas, no jardim, no percurso da
hemodiálise, nos dois meses e meio de internação hospitalar e preocupação
intensiva.
E sinto agora que tudo está passando, seis
meses já se passaram e sei que posso sofrer a falta desse inesperado, no
relaxamento de toda essa tensão.
Os momentos para mim
parecem um gás, evapora-se, nem sempre sendo fugaz! Verdades e aceitações ou como queiram...
Clara3amores®
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