Há uns anos eu conheci uma família de avó e duas netas. Eu morava num apartamento que eu as via voltando da feira no fim da tarde de sexta-feira e de sábado com seu carrinho de mão. Duas meninas criadas pela avó e muitas vezes apanhavam muito dela, e desnecessariamente. Pessoas que conheço as ajudaram muito. Confesso que tinha receio do temperamento da avó porque ela era muito revoltada. A vida sacrificada era muito difícil! As meninas eram muito amorosas, se davam com todo mundo e todos gostavam delas! Por causa dessa duas meninas eu fui visitá-las. Tive uma surpresa! Não esperava ser bem recebida pela avó, mas me enganei. Quando abriu a porta e me viu, ela também ficou surpresa e não sabia o que fazer em desdobramento de gentilezas. Conversamos muito e eu entendi aquela realidade.
Uma mulher que tinha ganhado a vida, quando jovem, com “programas”, teve duas filhas e cada uma teve uma filha e elas as criou como pôde. A mãe de uma delas fugiu logo para São Paulo só com a roupa do corpo e chegou lá, casou-se bem, conseguiu construir uma casinha e vivia dignamente. A outra foi mais longe! Chegou a Suíça, casou com um americano e também vivia confortavelmente. Ajudou a mãe a reformar o cafofo dela quando deus e trouxe até o marido para conhecer a subida do morro.
As meninas eram crianças mesmo. Apesar de trabalharem duro na feira, eram tão felizes! Quando essa avó adoecia, elas cuidavam com tanto carinho dela, faziam chá, se preocupavam genuinamente. Tantas vezes ela as tratava como tratava as filhas que não tiveram tanto zelo por ela. Mas quando visitei e conversei com essa avó, percebi que nela havia algo de bom que fez com que eu me tornasse amiga dela e a convidasse para lanchar e vir à minha casa. Sempre que nos encontrávamos, nos abraçávamos, e com o tempo ela foi mudando.
Ela viajou várias vezes para a Suíça com a neta. Uma vez ela me trouxe uma caixa de música. Da outra, uma corrente para o pescoço.
Eu me mudei desse apartamento, as meninas cresceram e se casaram, mas de vez em quando eu me lembro das meninas, da vida dura, que amavam aquela avó e que tinham um dos maiores sentimentos que é o senso de gratidão gerado pelo amor. E elas não eram irmãs, eram primas, e até onde pode ver, elas eram bem unidas. Natália e Danielle.
Por que existe paradoxo? Por que temos que lidar com questões que não conseguimos entender plenamente?A verdade é que existem crianças cercadas de educação, amor, lar, pais e tudo o mais e são egoístas, frios, desapegados e desamorosos. Às vezes não são maus, não se drogam, não são bandidos, mas são frios, agem sempre em troca de algo. Eu simplesmente não tenho resposta e não consigo digerir isso. É por isso que sempre penso em Natália e Danielle!
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