Preservar o coração de algumas emoções é tão difícil como quem perde alguém, a saudade esmiúça nosso coração, porque o que era já não é mais. Hoje é um dia de “banzo”, não posso negar, isto nesse momento. Mas por que isso? Simplesmente porque hoje estou relembrando momentos bons em família, meu pai, minha mãe, meus irmãos, cheirinho bom de canjica, pamonha cozinhando no fogão, uma peneira urupema em cima de um caldeirão grande, e mamãe colocando as pamonhas quentíssimas na urupema e papai ajudando ela no mexido da caldeirada da canjica “cuidado para não embolar”, mamãe dizia isso várias vezes. A casa, tinha cheiro bom, tudo misturado, mais fácil para se distinguir um a um, o cheiro da canjica, o da pamonha, o cheiro dos nossos vestidos engomados a capricho, com bicos e fitas, e o cheiro de fumaça, um friozinho característico do mês de junho. Não posso negar esses momentos, porque eu me sentia tão alegre, todos se sentiam alegres.
A saudade, que me é arremessada nesta época, não são por essas coisas em si, mais porque estávamos juntos, não sabíamos nada quanto ao nosso futuro e não estávamos também preocupados com isso, porque o que tínhamos nos bastava. A minha família era como, e é, como qualquer outra, mais havia respeito, carinho, e consideração, era um por todos e todos por um. Viver em família hoje é quase um fenômeno, o mundo mudou mesmo, e os que não têm afeição natural, são apáticos, insensíveis à família, não conseguem intender que o tempo passa, e não dá desconto a seu ninguém.
Eu sei que as cabeças funcionam diferentes, mais em vias de fato, já vi muita gente chorar o leite derramado, como já vi também, gente querer recuperar o que estar totalmente impossibilitado, aí vem clássica frase: “por que eu não fiz isso ou aquilo”, “ah! Se o tempo voltasse”, e agora meu irmão? O tempo não volta não, só porque você precisa que ele volte.
O mundo está oferecendo muitos entretimentos, e as coisas estão mudando rapidamente, e os que são fracos sem consciência da importância estruturar uma família, vivem ou querem viver a sombra de outra. Mais isso é fácil de entender. Isso acontece muito quando são imaturos, e não veem sua casa como um lar, ficar juntos não basta, depois o mundo mudou mesmo, e alguns não se dão conta, que os tem sorte, de ter uma boa família, de usufrui-la por não entender que o tempo voa.
Parece-me que foi ontem, esses momentos que relatei no princípio. Vi meu pai com sua vitalidade, forte, trabalhando, e como que num momento depois, eu estava o banhando sentindo os seus ossos, frágeis, não tinha mais altiveis em sua voz, até que ele tentava, mas não à tinha mais.
Hoje, todos esses pensamentos me acometeram, porque eu os vivi, e não sofro de remorso, nem pelo leite derramado (já escrevi isto?), e esse sentimento que eu não sei ainda o que é, me tranquiliza, por ter tido responsabilidade, e por ter amado papai e mamãe, eu só não sei se o tanto que eles mereceram, e não foi preciso eu os perdê-los para eu entender isso.
“Por mamãe tento ser uma rosa
Por papai me esforço para ser uma rocha”.
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