São 20h 15mins. Faltou energia!
Olhei pela janela da sala, para fora, vi meu terraço e vi minhas plantas, meu
jardim, minhas cestas penduradas no beiral do terraço.
Em segundos pude me ver no
passado! Quando ainda não existia energia elétrica, onde as famílias se reuniam
na sala e conversavam à luz de candeeiros, lampiões, castiçais e lustres a
velas.
Fiquei olhando pela janela a
rua e vi a estrada de terra que passa em frente e ao lado do nosso pequeno
sítio. Imaginei como poderia ser antes, pessoas andavam na escuridão da noite
nas estradas, nas ruas sem medo, confiando plenamente por quem passava sabendo
que era um amigo, um compadre só pela voz, a pé ou a cavalo.
Olhei para meus portões. Um com
caramanchão de flor lilás e o outro de entrada. Na minha imaginação uma cena
agradável, humana, provinciana. Vi pessoas chegando e eu querendo reconhece-las
na penumbra do escuro em baixo das árvores, os cachorros latindo, os presos e
os soltos correndo pelo terreiro anunciando a chegada dos não da casa.
E num momento novamente como
um ar fresco eu quase pude ouvir uma voz...
- Ô de casa!
- Ô de fora!
_ Sinhá Clarinha...
_ Diga...! entre pode
entrar!
E o céu tinha mais estrelas,
da lua não posso reclamar porque onde eu moro vejo belamente a lua cheia
aparecendo no céu!
No escuro aqui em casa o
carrilhão está tocando 20h 30mins, me dá uma sensação de saudade desse tempo
que acredito ter sido melhor, não sei. Em qualidade de vida, confiança,
palavras ditas dificilmente voltava atrás porque havia honra.
Podendo também escutar barulho
de charretes e pessoas conversando e eu escutando só meias conversas com o
barulho da charrete se indo à estrada, tão bom!
Por um momento pude chegar
ao fim do século XIX.
Parece que vivi sabem? Sinto
hoje toda essa melancolia me vendo no passado com vestido bege com bicos de
linha, laços nas mangas de côco, decote quadrado com entremeios com um laço do
lado do decote.
Meu jardim no escuro está
especialmente bonito hoje, na penumbra do escuro e o cheiro do jasmim Romeu e
Julieta e o manacá fazendo-se presente perfumando a noite.
Minha noite sem energia elétrica
me trouxe uma saudade do que não vivi!
Chegou à energia! Tudo igual
outra vez.