Interessante! Existe uma música que diz que a vida é como um novelinho de lã que vai se formando no decorrer da existência humana. Neste novelinho juntam-se todos os acontecimentos de nossa vida, momentos bons, ruins, memoráveis, até pessoas estão coladinhas neste novelinho, aos quais respondemos "sim" sem entender porque a resposta foi esta quando o novelinho já está quase formado pelo tempo.
Quando o novelinho está sendo formado como chumaço de algodão ao vento, estamos simplesmente envolvidos nessa complexa formação de decisões ao qual existem sucessivas respostas. Não podemos desmanchar o novelinho porque, como chumaço de algodão, se tirarmos por pequena que for uma parte, podemos tirar também parte em que nossas respostas estão conscientes e fica complicado porque existem coisas que não queremos perder no tempo. Eu particularmente prefiro ignorar meus"sins" inocentemente respondidos, porque não posso retirá-lo do novelinho que precisa continuar sendo formado pelo tempo.
Na verdade, acreditamos no sim que estamos respondendo. Mas o problema é se a quem estamos respondendo não os valoriza e não é importante para o novelinho de sua existência.
Hoje, quando a saudade invade meu coração e lembro das pessoas que disseram "sim" à existência do novelinho da minha existência e que já não estão comigo, agradeço por terem dito "sim" à minha formação no íntimo, sabendo que responderia novamente "sim" à dor de um nascimento. Por terem dito "sim" às preocupaçãoes, despesas e cuidados que estavam coladinhos no novelinho da existência dessas pessoas. Como também de grandes amigos que já não estão mais aqui e que disseram "sim" à minha inexperiência da pouca idade, e me aderiram aos novelinhos de suas existências e por sua vez enriquecendo a minha.
Eu sinto que o coração de uma pessoa é o que ela pode ter de mais precioso. (Quando digo o coração, é alguma outra coisa dentro de nós que não sei o quê) Eu sinto que é algo que pode ser trabalhado, esculpido, formado para o bom ou para o mau, para a parcimônia ou para a generosidade, para alcançar o entendimento ou ficar mergulhado no nada, continuar magoado ou evoluir os sentimentos.
Eu sinto muita saudade, uma saudade latente, quase uma necessidade urgente de abraçá-los, sorrir com as paisagens, sentar num alto e sentir a brisa de manhã no meu rosto jovem e olhá-lo e ver um sorriso largo num rosto maduro, experiente e amável. São estas lembranças que no bom sentido me dão orgulho de ter a identidade que tenho, digitais únicas iguais as minhas lembranças, sobreviver a quem me fere, me magoa, me fazendo sentir pena de quem não me enxerga, e que no passado pode até ter me dito "sim" e hoje me renega numa hipócrita aceitação ou obrigado por alguma necessidade.
Que o sim seja sim e seja permanente e que não seja nunca trivial.
clara3amores