Na sala de televisão da minha casa tem várias fotos, minhas com a família. Num pedacinho de parede eu coloquei umas fotos minhas de quando eu não tinha nem um ano de idade. Estas fotos também tenho no meu álbum, só que as do álbum estão completas porque não estou sozinha, mas estou com uma criança da mesma idade que a minha - menos de um ano. E amo olhar para estas fotos! Eu sinto um profundo sentimento, que minha vida teve um percurso e eu nunca estive só. Eu acho que até gosto muito da música"O Divã", de Roberto Carlos, porque retrata um pouco do que eu sinto hoje como adulta.
"... MInha casa era modesta mas eu estava seguro/ Não tinha medo de nada/ Não tinha medo do escuro/ Não temia trovoadas/ Meus irmãos em minha volta e meu pai sempre de volta trazia o suor no rosto/Nenhum dinheiro no bolso/Mas trazia esperança..."
E a vida vai passando, passando e quando vemos... Para mim não é bom tercer comentários! Chega a doer.
Bem, eu tive um sonho. Um sonho tão forte, tão verdadeiro! Eu estava vivendo no tempo dessas fotos em que eu era tão pequena e eu os revivi, podendo assim dizer. Eu estava tão feliz por estar naquele lugar! No sonho eu sentia o tecido do meu vestidinho tocar minha pele, sentia minha mão na calçada áspera, pórém, varridinha, e a cor de um cimento mais branco como geralmente é quando a calçada é novinha.
Mamãe estava sentada numa cadeira que era a cadeira da mesa, encostada na parede da casa, nos olhando e eu me sentia ofegante com o esforço de brincar e andar ainda sem saber muito bem. E de vez em quando mamãe me puxava carinhosamente e me dava uns cheirinhos discretos, mal encostando seu nariz em minha cabeça. Interessante! Esta forma de mamãe acarinhar era só dela. Seus abraços eram calorosos, confortáveis, quentes, mas não eram apertados. Seus cheiros e seus beijos eram suaves, mas aqueciam. E eu não consigo compreender como num sonho eu revivi algo que eu não me lembro.
Tive uma noite mal dormida e quando eu acordei já era de manhã, mas eu dormi de novo, e foi num espaço de tempo muito pequeno que eu tive este sonho e quando eu acordei eu chorei tanto, mais tanto, porque eu não queria ser adulta, não queria nunca ter existido ou eu queria ter ficado só naquele tempo. E fiquei muito abalada com este sonho porque não consigo compreender, como já disse, coisas que eu não lembrava e que este belíssimo sonho cheio de ternura me fez reviver. Este sonho foi para mim a configuração que tudo hoje é muito diferente; a sociedade humana está totalmente caricaturada: caricatura de mãe. Caricatura de filho. Caricatura de família. Não estou generalizando mas acredito que na maioria dos casos é assim mesmo. Pouquíssimo hoje em dia se pode contemplar a ternura, o desvelo ou a obediência reverente de um "sim, mamãe; sim, papai".
As boas mães sempre serão retratadas como uma obra de arte assim determinou Deus aos pintores clássicos, aos modernos e conteporâneos onde pode ser retratada toda uma ternura que não envelhece.
CLARA3AMORES
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