Eu não
conseguia entender porque um livro escrito por Alvares de Azevedo pudesse
aviltar alguém. Eu já havia lido “Lira dos vinte anos” e ficava impressionada e
melancólica por aquele rapaz que escreveu o que vinha a ter escrito em sua
lousa. Eu não aceitava o fim fatídico dele e depois eu ser aconselhada “a ler
outros”. Eu achava tudo tão lindo, o sofrimento para mim era expresso com tanto
requinte que me parecia valer a pena sofrer. Por que adoeciam? E eu sentia um
pavor da morte, não queria que minha mãe sofresse, mas morrer de amor para mim
era talvez um valer a pena.
E eu ia lendo outros como o “seminarista” que
amou tanto sua Margarida! Mas o mal do século com era chamada a tuberculose ceifou
a vida de tantos poetas. O interessante que quando eu os lia eu me envolvia
tanto que de repente eu às vezes pensava que o protagonista era o autor.
O meu amigo poeta sugeriu que eu tenho
natureza fleumática, foi por isso que me veio essas lembranças de mim mesma e
do que eu lia. Foram tantos romances que me impressionavam, até os bíblicos
também. Deixavam-me calada pensando porque aquilo veio a existir. Para mim com
todo sofrimento era lindo, é lindo troca de desejos, pensamentos românticos,
palavras, palavras lindas alimentam a alma e os que sentem essa sede, mas que
outros podem petrificar perder a sensibilidade natural.
Eu lia tanto que o diretor me colocou para
cuidar da biblioteca para eu indicar e depois dizia que eu devorava os livros e
saia rindo, eu era uma menina. Alguns ficaram indeléveis, outros como um sonho.
Por exemplo, havia uma edição de capa preta, inglesa, edição das moças, antigos.
Como eu gostaria de encontrar algum exemplar porque todos eu li para chorar.
E tudo isso eu escrevi por causa da palavra
fleumática!
Clara3amores®
Dedico ao poeta
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