Bem mais jovem eu acompanhei amigos que precisavam de uma força amiga. Eu me refiro especificamente ao caso de doença. Como sempre falo, essa vida é uma estrada de mão dupla.
Esses casos que acompanhei de pessoas que eu conhecia, com seu valor humano eu aprendi muita coisa! Hoje eu posso dizer que embora lúcido, há uma diferença grande em se morrer de velhice e de câncer. Avalio hoje que uma pessoa de idade avançada, lúcida não quer morrer. Imagino e vi o processo doloroso da luta de uma pessoa com tanta coisa para fazer na vida entre dores dilacerantes em atendimento público, tão fragilizado, confiar numa cura.
Nessa época eu tinha um Gol. Meus filhos cresceram nesse carro e com esse carro eu ajudei meus amigos. Meu filho já crescido, usou esse carro até o dia de seu casamento.
Falar dessas coisas e lembrar os momentos que vivi me faz sentir vulnerável, mas com um saldo de alguma coisa que eu não sei descrever, porém, alguma coisa boa.
Ontem visitei uma amiga que fez mastectomia no seio direito. Tirou todo, um pouco das axilas, e senti que estava ainda muito fraca da própria cirurgia e das sessões de quimioterapia antecipada para diminuir o tumor. Imaginem só que ela estava em processo de desacordo conjugal e estava querendo a separação. O marido dela nos disse quando comentou o caso comigo e com meu marido, entre suas expressões a que me marcou foi: “ Para onde ela quer ir? O lugar dela é comigo.” Antes de saber da doença, embora já sentindo algum incômodo, foram aos Estados Unidos em julho do ano passado. Quando voltaram foram ao médico para uma revisão e, boom... a notícia! Começaram as quimioterapias. Ela fez a cirurgia no dia 22, quarta-feira. Ontem foi sábado e eu fui visitá-la em casa. Foi quando conversamos.
A verdade sempre aparece, e a aceitação como sempre é necessária e é o esplendor da humildade. Dentro daquele quadro doído e doloroso fisicamente, eu vi nascendo outra mulher. Não sei se ela já existia ocultamente ou estava fora do meu alcance de percepção. Ela estava totalmente diferente de quando a conheci, mas mesmo naquele estado eu ainda não tinha a visto tão feminina. Era uma feminilidade íntima e eu a vi transparecer íntima e eu a vi transparecer porque ela e ele nunca estiveram tão juntos. Ele se mostrou para ela um homem delicado, exercitando o amor e dando movimento cuidadoso às ações expressas de um homem que ama até na doença.
Ela me afirmou que do momento ruim a melhor coisa transpareceu para ela. A verdade tornou-se óbvia e a aceitação de coisas que ela dava primazia precisava ser reavaliada, que no caso isso já havia acontecido. Dificilmente nas adversidades um casal se une! A tendência é o abalo esfriar o relacionamento e acabar tudo. Esse caso para mim foi atípico e como eu gostaria profundamente que Deus Jeová os ajudasse, dando-lhes mais tempo para novas descobertas boas. Que ela voltasse a realizar coisas que por falta de motivação, descrença nos sentimentos dele, fria rotina, enxergando diferente, eles pudessem viver muito mais tempo juntos.
Às vezes, falando de mim agora, eu fico pensando, “só eu enxergo as coisas assim? As pessoas ao meu redor não veem como eu vejo, por quê? Sou errada de ser e pensar do meu jeito?” Mesmo com todas essas perguntas que eu não consigo respostas, eu me sinto um livro desinteressante de páginas coladas, incompreensíveis, porque ao mesmo tempo que eu escrevo isto, eu penso também que nós não temos a garantia que o futuro que acreditamos está a nossa frente, sobre essas questões será um futuro garantido, que questões como essas de dor e sofrimento sejam lembradas e consideradas como alicerce forte e que qualquer coisinha não venha desestruturar o relacionamento que já foi testado.
Essa é a lição que tirei desses casos, embora cada um muito diferente do outro. Cada vida tem seu percurso, seu tempo, sua digital. Os que não sucumbem vivem por razões, também, que só sabemos posteriormente. Mas com certeza para os que querem aprender haverá sempre indagações, assim como as minhas que observo e tento compreender as pessoas como elas são.
Este assunto que veio a bailar em meus pensamentos depois que visitei minha amiga em recuperação; o inesperado, doença, dor, mudança, eu vi nesta mistura ressurgir o amor. E dentro desse caso, desse específico caso, eu me lembrei de um livro lido há muito tempo, que para quem leu também entenderá a expressão: “A insustentável leveza do ser”.
CLARA3AMORES
CLARA3AMORES
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