1904- Assistindo a esta novela das seis
horas, eu fico pensando e tentando entender qual foi nosso verdadeiro
progresso. Não preciso mencionar para não ser tão jactante. Embora usufruímos
bem coisas do progresso, a própria novela com seus artifícios nos mostra toda
uma tecnologia. Pois bem, somos mais felizes hoje do que poderíamos ser em
1904? Pensem.
Partindo do enredo da novela a vida dos
afro-brasileiros de hoje é melhor dos daquela época, que subiram o morro para
refazerem e instalar suas moradias, mas lá, não esqueçamos que surgiram grandes
poetas que se inspiravam com tudo que havia lá. “Nega, mulata, morena, Ave
Maria do morro, lata d’agua na cabeça, chão de estrelas (estrelas eram vistas
no chão porque o zinco que cobria o barraco era furado), retalhos de setim da
cabrocha”. Tantos autores se inspiraram na bela paisagem que viam naquela
época, lá de cima do morro onde podiam ver também os casarões dos burgueses.
A novela mostra que os negros filhos de
escravos tinham medo de tomar a vacina contra varíola acreditando que era um
extermínio. Mas é claro, depois de tudo que tinham passado nas mãos dos
brancos, como pessoas inteligentes, tinham direito de duvidar de tudo que
viesse deles. As negras se vestiam bem, não expunham seus corpos, eram faceiras
com o que Deus lhe deu. Assim como nas senzalas que havia ficado para trás, os
sinhozinhos ainda achavam que podiam abusar delas acreditando que a
sensualidade delas o provocava e isso era suficiente para justificar o abuso.
Mas o sol era mais frio, não era o sol causticante de hoje e isso contribuía
para que as mulheres ostentassem belíssimos vestidos, chapéus, luvas em
passeios pelas ruas. Aqui em recife, em pinacotecas, livros e registros mostram
que a realidade daquela época aqui era igualzinha em termos sociais. Pernambuco
foi o maior exportador de cana do mundo na época em que Maurício de Nassau por andou
por aqui por volta de 1600 deixando seu rastro na belíssima arquitetura e
retratando a beleza da fauna e flora retratadas em tela a óleo pintado por Franz
Prost, Albert Heckhout. Talvez seja por isso que os pernambucanos tenham um
pouco disso no sangue, temos muita história desse período e uma tradição.
Voltando a 1904 as mulheres burguesas
vestiam-se de rendas, laços, brincos de ouro pedras preciosas sedas e tudo que
o dinheiro podia dar e embelezar uma dama da sociedade. Suas mucamas e
empregadas eram brancas e desenrolavam o francês por causa dos pratos
oferecidos nas lautas refeições. Vestiam roupas com bico inglês e podiam usar
também se tivessem joias de marcassita, que na época não tinha muito valor.
Eu já escrevi que em toda época houve os
dois lados da moeda. Pois bem, mas existia remorso, pedido de perdão, e
sentimento de pesar, respeito, medo reverente. Isto hoje não existe, o canário
do mundo é sujo e o crak assola sem antídoto e vacina, a logística do crime, a
morte prematura em loucuras se torna corriqueira. Que lástima meu Deus!
Então essa novela resgata um pouco de
coisas simples, como andar nas ruas com seus filhos, seu marido ou namorado com
tanto que tivessem acompanhantes, pessoas do comércio eram conhecidas pelos
seus nomes. E os dias não atropelavam os outros dias. A rotina era prezada.
Estes meus pensamentos não são absolutos,
sei que existem pessoas que podem discordar tranquilamente, mas não podem dizer
que vivem sem medo, quando o medo naquela época era para quem devia, quem
sofria ameaças em brigas, e isso esporadicamente. Atualmente o medo é real,
preocupação também é real.
Livros, livros, livros, como tinham
valor! As moças proibidas de estudar e desejavam conhecimento, eram autodidatas
depois da alfabetização, e as que podiam tinha sua formação em internato. Mas
os jovens conversavam sobre poesias, e literatura era a rede social da época.
Será gente, que dar para notar a
diferença? Ou não? Será que sou piegas quanto a esse assunto? A bem da verdade,
eu acho que nasci em época errada!
Lado a lado estar de parabéns, mostrando
também que um homem quando cavalheiro não é machista e não se pode atribuir a
uma época. A história mostra que muitos homens honraram suas mulheres, e para
mim machismo não é comportamento é simplesmente maldade e irracionalidade.
Falei outra vez em
sensibilidade!
Clara3amores®
Fotos legendárias das atrízes com roupas de época, arquitetura do Recife antigo, rapazes promovendo o "footbol" no Brasil vindo da Iglaterra.
Texto maravilhoso! Fica aí a reflexão... "a Literatura era a Rede Social da época". Sábias palavras da querida Clara. Ah... também nasci na época errada!!!!
ResponderExcluirDanielle querida,obrigada por seus dois belos comentários, "amor" e "sem querer...", fico feliz como se ouvisse sua voz e você em frente a mim, com sua juventude e sensibilidade. Sinto falta quando você não tem tempo de se comunicar comigo, é como se cada comentário seu fosse como se nos abraçássemos e ouvíssemos uma da outra "que bom te ver, que bom que você veio". Tenho certeza Danielle que um dia iremos nos conhecer. Não tenha medo querida. Pense que esse medo não é seu é apenas causado por suas inquietações, responsabilidade e pressa. Mais acredite minha Rosinha, você tem tempo! E ainda se sentirá completa. Um beijo minha Rosa, desses que só damos em filha.
ExcluirClara3amores.