Livraria Cultura

quarta-feira, 17 de outubro de 2012

SEM QUERER FALEI OUTRA VEZ EM SENSIBILIDADE


      1904- Assistindo a esta novela das seis horas, eu fico pensando e tentando entender qual foi nosso verdadeiro progresso. Não preciso mencionar para não ser tão jactante. Embora usufruímos bem coisas do progresso, a própria novela com seus artifícios nos mostra toda uma tecnologia. Pois bem, somos mais felizes hoje do que poderíamos ser em 1904? Pensem.

      Partindo do enredo da novela a vida dos afro-brasileiros de hoje é melhor dos daquela época, que subiram o morro para refazerem e instalar suas moradias, mas lá, não esqueçamos que surgiram grandes poetas que se inspiravam com tudo que havia lá. “Nega, mulata, morena, Ave Maria do morro, lata d’agua na cabeça, chão de estrelas (estrelas eram vistas no chão porque o zinco que cobria o barraco era furado), retalhos de setim da cabrocha”. Tantos autores se inspiraram na bela paisagem que viam naquela época, lá de cima do morro onde podiam ver também os casarões dos burgueses.

      A novela mostra que os negros filhos de escravos tinham medo de tomar a vacina contra varíola acreditando que era um extermínio. Mas é claro, depois de tudo que tinham passado nas mãos dos brancos, como pessoas inteligentes, tinham direito de duvidar de tudo que viesse deles. As negras se vestiam bem, não expunham seus corpos, eram faceiras com o que Deus lhe deu. Assim como nas senzalas que havia ficado para trás, os sinhozinhos ainda achavam que podiam abusar delas acreditando que a sensualidade delas o provocava e isso era suficiente para justificar o abuso. Mas o sol era mais frio, não era o sol causticante de hoje e isso contribuía para que as mulheres ostentassem belíssimos vestidos, chapéus, luvas em passeios pelas ruas. Aqui em recife, em pinacotecas, livros e registros mostram que a realidade daquela época aqui era igualzinha em termos sociais. Pernambuco foi o maior exportador de cana do mundo na época em que Maurício de Nassau por andou por aqui por volta de 1600 deixando seu rastro na belíssima arquitetura e retratando a beleza da fauna e flora retratadas em tela a óleo pintado por Franz Prost, Albert Heckhout. Talvez seja por isso que os pernambucanos tenham um pouco disso no sangue, temos muita história desse período e uma tradição.

      Voltando a 1904 as mulheres burguesas vestiam-se de rendas, laços, brincos de ouro pedras preciosas sedas e tudo que o dinheiro podia dar e embelezar uma dama da sociedade. Suas mucamas e empregadas eram brancas e desenrolavam o francês por causa dos pratos oferecidos nas lautas refeições. Vestiam roupas com bico inglês e podiam usar também se tivessem joias de marcassita, que na época não tinha muito valor.

     Eu já escrevi que em toda época houve os dois lados da moeda. Pois bem, mas existia remorso, pedido de perdão, e sentimento de pesar, respeito, medo reverente. Isto hoje não existe, o canário do mundo é sujo e o crak assola sem antídoto e vacina, a logística do crime, a morte prematura em loucuras se torna corriqueira. Que lástima meu Deus!

     Então essa novela resgata um pouco de coisas simples, como andar nas ruas com seus filhos, seu marido ou namorado com tanto que tivessem acompanhantes, pessoas do comércio eram conhecidas pelos seus nomes. E os dias não atropelavam os outros dias. A rotina era prezada.

      Estes meus pensamentos não são absolutos, sei que existem pessoas que podem discordar tranquilamente, mas não podem dizer que vivem sem medo, quando o medo naquela época era para quem devia, quem sofria ameaças em brigas, e isso esporadicamente. Atualmente o medo é real, preocupação também é real.

      Livros, livros, livros, como tinham valor! As moças proibidas de estudar e desejavam conhecimento, eram autodidatas depois da alfabetização, e as que podiam tinha sua formação em internato. Mas os jovens conversavam sobre poesias, e literatura era a rede social da época.

Será gente, que dar para notar a diferença? Ou não? Será que sou piegas quanto a esse assunto? A bem da verdade, eu acho que nasci em época errada!

      Lado a lado estar de parabéns, mostrando também que um homem quando cavalheiro não é machista e não se pode atribuir a uma época. A história mostra que muitos homens honraram suas mulheres, e para mim machismo não é comportamento é simplesmente maldade e irracionalidade.

                       Falei outra vez em sensibilidade!

                                                                          Clara3amores®  









 Fotos legendárias das atrízes com roupas de época, arquitetura do Recife antigo, rapazes promovendo o "footbol" no Brasil vindo da Iglaterra.
                                                                                     CLARA3AMORES

2 comentários:

  1. Texto maravilhoso! Fica aí a reflexão... "a Literatura era a Rede Social da época". Sábias palavras da querida Clara. Ah... também nasci na época errada!!!!

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    1. Danielle querida,obrigada por seus dois belos comentários, "amor" e "sem querer...", fico feliz como se ouvisse sua voz e você em frente a mim, com sua juventude e sensibilidade. Sinto falta quando você não tem tempo de se comunicar comigo, é como se cada comentário seu fosse como se nos abraçássemos e ouvíssemos uma da outra "que bom te ver, que bom que você veio". Tenho certeza Danielle que um dia iremos nos conhecer. Não tenha medo querida. Pense que esse medo não é seu é apenas causado por suas inquietações, responsabilidade e pressa. Mais acredite minha Rosinha, você tem tempo! E ainda se sentirá completa. Um beijo minha Rosa, desses que só damos em filha.

      Clara3amores.

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