Livraria Cultura

sexta-feira, 12 de outubro de 2012

Uma ostra que não foi ferida não produz pérola


Quem gosta de sofrer?

Pergunta insana e propícia para todos os mortais.

Todo mundo quer viver livre de espinhos e abrolhos, ninguém quer infortúnios, incômodos, reveses e por aí em diante. Algumas pessoas fogem de ajudar outros ou só ajuda os que lhes convém, não querem sofrer com a solidariedade, altruísmo e generosidade consagrando sua vida aos descansos, porque são muito cansados do dia a dia. Esses são os que não querem se ferir com “inconveniências” sociais e humanas. Que pena!

     Aqui em Recife um idoso simpático e feliz treinou cães para ajudar pessoas, especialmente crianças, com transtornos psicoemocionais. Esse homem não foge da dor nem de olhar para ela. Alguém dos meus leitores tem noção de como essa dor dói sem serem diagnosticadas por estetoscópio, radiografia, ressonâncias, nada de palpável diagnostica a doença psíquica. Esse homem que mencionei respondeu a jornalista que a alegria dele era ver um sorriso no rosto de quem tem transtornos. Com certeza essa pessoa sabe o que é transtornos. Ele não tinha medo de sentir a dor e de ver de perto rostos estranhos e contraídos de dor interna, na alma. Ele conseguia fazê-las sorrir e isso o feria, mas ele tomava ação.

     Outro caso foi de um morador de rua que foi acolhido em um hospital público com câncer e ali ele ficou até sua morte. Esse caso tem dois convenientes de transformar a dor, feridas em exemplos de dignidade. O primeiro, o do morador de rua. É que ele cantava, gostava de pinturas e músicas clássicas como de Chopin, BAA, todos e os outros “monstros” da música clássica. Quem o ensinou tamanho gosto tão refinado? O segundo de quem o amou, mesmo sofrendo em ver o declínio daquela pessoa de sentimentos tão nobres, dentro de um corpo feio, sofrido e  mesmo assim sorria. Essas pessoas não tiveram medo de lidar com um morador de rua condenado a morrer com câncer. Bem aventurada seja esta pessoa que o conduziu ao hospital.

      Na verdade todas as pessoas que se ferem em aceitar os gemidos de dor seja ela emocional ou física de outras pessoas  se transformam sem saber em pérolas. Porque toda ostra para formar uma pérola dentro de si tem que ser ferida. Que linda essas pessoas são! E elas não sabem que formam um belíssimo colar de pérolas e tudo que elas podem formar sem ter medo da dor. Sei que não é fácil involuntariamente ou voluntariamente aceitar as dores que nos acomete no percurso da trajetória na vida. São tantas os tipos de feridas. Às vezes uma cicatriz do passado dói, estar lá, latente, martirizando pessoas, algumas vive isso com maestria, outras ficam por terra. Na minha humilde opinião os dois casos são dignos de complacência. Quando a dor chega ela não pergunta: posso me instalar em você? Você tem raça para me suportar? Não, ela a violenta e a nocauteia sem misericórdia. Não esqueçam, por favor, que me refiro à dor física e a emocional.

      Conheço pessoas que aprenderam muito com a dor, no caso, se curvaram, mas se tornaram pessoas melhores, compressivas e altruístas. Existem casos e casos...!

       Gente querida precisei parar, agora, por duas horas mais ou menos, para receber um amigo que veio me apresentar sua segunda filhinha por adoção, o primeiro também é adotado, ambos soro positivo. Será que ele é louco? Inconsequente? Não, ele não tem medo da dor. Ele prefere pensar em ameniza-la, essa é sua escolha. Será que um homem de 52 anos não pensa? Pelo que eu o conheço senso de responsabilidade não lhe falta e força para trabalhar. Isto sugere algo?              

    “Uma ostra que não foi ferida não produz pérolas”.              

Dedico esses meus pensamentos a minha irmã Tetê que se feriu num dos atos onde ela investiu amor, carinho, tempo, zelo, noites em claro. Para mim ela se transformou numa pérola, isso se ela já não o era!!!!!!

                                  Clara3amores®
                                   Pérolas serão sempre pérolas
 
 
                       David Wilibaldo Luna - ex-morador de rua


                                                                   Que coisa linda!!!  A pérola é acolhida por uma membrana fina, delicada e úmida, resposta à ferida! linda!

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